quarta-feira, 7 de novembro de 2012

As distorções pentecostais do Cristianismo

O movimento pentecostal começou nos EUA (início do século 20) a partir de experiências místicas acompanhada de uma releitura de Atos 2. Logo se espalhou pelo Ocidente, em especial, nos países periféricos do capitalismo central. Carregado de sensacionalismo, fábulas, emocionalismo, espontaneísmo e “coisas extraordinárias”, as pessoas foram aderindo às pencas em busca de um “milagre” que poderia ser um novo emprego, um marido para casar, uma casa, um carro novo, uma cura física, enfim, o desejo de encontrar um deus que pudesse ser um servo dos seus desejos e necessidades mais urgentes. Os seus ideólogos pregavam que bastava a fé e um novo batismo e o “deus de promessas” derramaria uma “chuva de bênçãos” na vida do crente. Sem dúvida, era demasiadamente atraente a pregação pentecostal e ainda hoje o é, basta ver as estatísticas.


Uma das características do pentecostalismo – incluindo o chamado neopentecostalismo – é sua proliferação através de movimentos de rupturas e dissidências. Aqui mesmo no Brasil, ele começou com a Assembleia de Deus e Congregação Cristã no Brasil, mas logo se multiplicou em inúmeras denominações nas mãos de pastores, bispos, apóstolos, profetas e novos messias: Casa da Benção, Evangelho Quadrangular, INSJC, O Brasil para Cristo, Igreja Universal, Igreja da Graça, Sara Nossa Terra, as diversas “renovadas” etc. Somam mais de 35 mil nomes!


Qual é a base central das doutrinas pentecostais? Para além daquilo que se convencionou chamar de fé protestante, dois são os pontos chaves, deixando de lado os acessórios inúmeros e até criativos: batismo com o Espírito Santo e o dom de falar em línguas estranhas. Essas são duas marcas essenciais em qualquer igreja desses grupos religiosos.


Os pentecostais acreditam que é a verdadeira igreja primitiva, uma ressurreição dos tempos apostólicos onde o Espírito Santo atuava com mais plenitude. Nesse raciocínio, as igrejas protestantes e reformadas eram vistas como espaços “sem o poder do Espírito Santo”, cristãos “não avivados”, portanto, mortos.


Essa concepção de que os outros são “cristãos mortos” é estranha ao Novo Testamento, aliás, como diversas outras doutrinas pentecostais. Vejamos o que diz Paulo em Romanos 8:15:

Porque o Espírito que vocês receberam de Deus não torna vocês escravos e não faz com que tenham medo. Pelo contrário, o Espírito torna vocês filhos de Deus; e pelo poder do Espírito dizemos com fervor a Deus: "Pai, meu Pai!"

O Espírito que vocês receberam (está no passado!), portanto, todos aqueles que clamam a Deus com fervor assim o fazem sob o poder do Espírito, pois estes receberam de Deus o Espírito. Não há mais medo e nem escravidão, mas liberdade.


Na primeira carta aos Coríntios (3:16), Paulo confirma:


Certamente vocês sabem que são o templo de Deus e que o Espírito de Deus vive em vocês.


Certamente, todos os que creem são habitados pelo Espírito divino, portanto, onde está à necessidade de outro batismo, um “batismo do Espírito Santo”, se cremos em Jesus e cremos em Deus?

O chamado dom de línguas tinha uma utilidade fundamental nos tempos primitivos do Cristianismo, pois ajudava a unir quatro grupos diferentes:

a) os que vinham do judaísmo, Atos 2;

b) os samaritanos, Atos 8.17;

c) os gentios, Atos 10.46;

d) os discípulos de João Batista, Atos 19.6;


Além disso, o falar em línguas estrangeiras sem conhecimento prévio destas (xenoglossia) era um sinal extraordinário da presença de Deus naqueles apóstolos, dando um testemunho da verdade de sua mensagem eterna, pois “havendo línguas cessarão” (1Cor 13:18). Esse dom de línguas do Novo Testamento é coisa bem diferente das gritarias e expressões esquisitas que desde a criação do movimento pentecostal chamam de “dom de línguas”.

 

Durante as reuniões da igreja, dois ou três tinham a permissão para falar em línguas, um por sua vez, e a mensagem tinha que ser traduzida, para que o restante da igreja pudesse entender. Quão diferente disso é o que vemos hoje! Ao invés de idiomas reais, ouvimos tolices – meros sons sem sentido – e com frequência, na confusão de muitas pessoas tagarelando ao mesmo tempo. Isso é caos, não o Espírito de Cristo. Por favor, que ninguém lhe engane sobre isso[1].

 

O pentecostalismo se coloca como um “cristianismo de experiência”, uma vivência íntima com o Espírito Santo. A maioria pentecostal tem ojeriza pela reflexão teológica racional, pois os sentimentos e as experiências (o “testemunho pessoal”) são mais importantes, porque “Deus fala diretamente comigo”.

 
Como debater com alguém que fala e sabe diretamente o que Deus deseja?[2] Que tem revelações especiais e particulares? Abre-se aí um caminho para um misticismo alienado e sem nenhuma razoabilidade, onde o Espírito e suas relações íntimas com o crente ficam acima do testemunho das Escrituras, da tradição teológica e da razão.

 
A partir desse conjunto de doutrinas estranhas ao Novo Testamento e ao Cristianismo, o coronelismo, o autoritarismo, o mandonismo e diversas formas de opressão se espalharam nessas igrejas pentecostais, pois quem ousa questionar um “apóstolo de Deus”? Uma pessoa que é “ungida do Senhor”? A manipulação é um dos pontos mais tristes, pois o Cristo que liberta passa a ser usado como escudo para erguer um novo tipo de escravidão absolutamente contrária ao Evangelho:


Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres. Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente. (Gálatas 5:1)

 
            

Aqueles que têm fé já tem o Espírito (cf. Rm 8:9 e 1Cor 12:13) e não necessitam de nenhum “batismo de fogo” transcendental. Somos livres e não queremos uma nova escravidão imposta por doutrinas estranhas ou por líderes carismáticos-populistas. O nosso chamado é para viver o amor, servindo-nos mutuamente, movidos pelo Espírito do Cristo formamos um só corpo que é a Igreja de Cristo.

 

Assim, também, todos nós, judeus e não-judeus, escravos e livres, fomos batizados pelo mesmo Espírito para formar um só corpo. E a todos nós foi dado de beber do mesmo Espírito.(1Cor 12:13)

 

Porém vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Mas não deixem que essa liberdade se torne uma desculpa para permitir que a natureza humana domine vocês. Pelo contrário, que o amor faça com que vocês sirvam uns aos outros.(Gálatas 5:13)

 
Por último, o aspecto mais tenebroso do pentecostalismo é seu medievalismo teológico. Ele ressuscitou o diabo que agora vive assombrando as pessoas e criando terror psicológico na mente de muitos cristãos de boa fé. Nas igrejas pentecostais, a primeira impressão que temos é que Deus está sem as rédeas do processo histórico (individual e coletivo), que o Reino de Deus é muito fraco e que o soberano senhor é o diabo. Satanás passa a ser o faz tudo e as pessoas de fé devem viver uma vida de ásperas lutas contra o chifrudo, sem paz interior.

A carta de uma senhora de idade encaminhada ao reverendo Jonh MacArthur Jr é um testemunho inequívoco do que o pentecostalismo pode fazer com uma pessoa:

“Você sabe que vivemos toda a nossa vida nesse movimento e uma coisa que domina esse movimento é isso: que Satanás é soberano. Se você adoece, foi o diabo. Se seu filho fica doente, foi o diabo. O diabo fez seu filho adoecer. E mesmo que seu filho morra, Satanás de alguma forma tem a vitória. Se o seu cônjuge, seu marido ou esposa desenvolve um câncer, foi o diabo que fez isso. Se você sofre um acidente, o diabo fez isso. Se perde o seu emprego, foi o diabo também. Se as coisas não saem da forma como você queria na sua empresa ou família, e você termina perdendo o seu emprego ou se divorciando – o diabo fez tudo isso. O diabo precisa ser amarrado e assim, você precisa aprender essas fórmulas, pois você tem que prender o diabo, ou ele realmente irá controlar tudo em sua vida. O diabo domina tudo, e ele é assistido por essa força massiva de demônios que devem ser confrontados também, e você precisa fazer tudo o que pode para tentar vencer esses poderes espirituais, e como eles são invisíveis, rápidos e poderosos, é realmente impossível que você lide com eles de uma vez por todas, de forma que essa é uma luta contínua e incessante com o diabo.

 
Eu vivia com palpitações no coração, ataques de pânico, ansiedade, pesadelos – andando no meio da noite com medo que o diabo poderia estar fazendo algo com meu filho, quando ele ia se deitar. Eu vivia nesse constante terror do que Satanás estava fazendo; quando a pessoa errada era eleita, foi Satanás quem o colocou ali. Quando a sociedade tomava certa direção, era tudo sob o controle de Satanás. Satanás é realmente o soberano de todas as coisas e é muito difícil tirar o controle dele – mesmo Deus está retorcendo Suas mãos, tentando obter o controle dessa situação. Eu vivia com esse medo e terror, pois levava minha igreja [pentecostal] muito a sério”.

 

Eu creio em Cristo, creio na vitória final de todo o bem (pós-milenismo), creio que todas as pessoas de fé já têm o Espírito Santo em seu coração e que Deus está no governo de todas as coisas, repito, todas as coisas, mesmo aquelas que me parecem estranhas, mesmo quando não encontro uma compreensão adequada ao meu conhecimento humano, por isso mesmo, jamais poderia crer em diabos que tudo governam.

 

Observação: O meu objetivo com esse pequeno texto é esclarecer um posicionamento teológico, por favor, não interpretem como uma ofensa pessoal a um pentecostal ou como um gesto antiecumênico. Tenho vários amigos e amigas que são membros de igrejas pentecostais e nossa amizade não anula meu direito de discordar de tais doutrinas.

 

 

 



[1] Retirado de um estudo do monergismo.com
 
[2] Perceba que nesses casos, os estudos bíblicos se tornam desnecessários, pois o pentecostal sabe diretamente de Deus o que é bom para ele, aquilo que é correto e santo, até mesmo previsões do futuro (chamadas de “profecias”).

Um comentário:

  1. Bom dia.
    Você em seu comentario falou muitas verdades sobre o pentecostalismo ou os pentecostais.
    Sou pentecostais e também creio que tem muita baboseira, coisas de cabeça de homens.
    Mas uma coisa não concordo contigo a não ser que me prove no que diz respeito que os pentecostais ressuscitaram o diabo,que isso não é assim
    Me explica então, essa criminalidade, falta de amor, vícios homosexualismo contrariedade naquilo que Jesus falou. Se isso não é obra do diabo de quem será? Coisa que os pentecostais combate ferrenhamente. Se não é obra do diabo é obra de quem? De alguma entidade que se acha no direito de escrever tudo que pensa e dizer ironias porque não crê assim? Que é obra do diabo para você? ou no teu entendimento o diabo é mais um desses mitos como costumam dizer, é coisa dos pentecostais.
    Me dê uma definição o que é o diabo.

    Abraço em Cristo Jesus.

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