segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

REENCARNAÇÃO X GRAÇA DIVINA?


Recordo-me que, nos meus tempos de adolescente, aprendi na igreja que a crença na reencarnação seria uma negação da cruz de Cristo e uma mentira diabólica para as pessoas irem para o "inferno". Ensinaram-me que pelo fato dos espíritas acreditarem ser preciso renascer outras vezes num corpo físico estariam eles rejeitando a salvação proposta por Deus através da graça. Esta, conforme me diziam, só seria alcançada mediante a aceitação do sacrifício substitutivo de Jesus acompanhada de um arrependimento sincero de pecados mais uma confissão pública de fé, a qual então se confirmaria pelo batismo nas águas e por atos condizentes com uma vida regenerada.


Com o passar do tempo, vim a compreender que tinha uma visão muito empobrecida da graça de Deus. Questões sobre como se "salvariam" aqueles aos quais jamais foi anunciado o Evangelho de Cristo (ou da Igreja) permaneciam em aberto. Também em relação aos israelitas que viveram antes de Jesus nascer pairava outra dúvida já que eles desconheciam o salvador e tinham uma concepção messiânica distinta do que consta na doutrina baseada no cânon oficial do Novo Testamento.

Ora, mas será que Deus seria capaz de mandar a alma de uma pessoa para o "inferno", destinando-a sofrer eternamente, só porque ela não escutou o discurso salvífico de um crente ou deixou de compreender a mensagem que lhe foi pregada a ponto de ir à frente da congregação quando o pastor fez o apelo no fim do culto? Que divindade sádica e injusta seria esta inventada pelos cristãos fundamentalistas que condenaria a própria criação pra assar num lago de chamas?!

Felizmente a própria vida e a realidade complexa das coisas vieram a me ensinar sobre o quanto a graça divina é rica para com todos, indo muito além da nossa compreensão restrita. Pois tal graça opera independentemente da ação ministerial daqueles que se consideram portadores das boas notícias salvíficas e alcança a todos os seres na condição em que cada um se encontra. E aí pouco importam as nossas convicções pessoais sobre a Divindade ou qual o conjunto de crenças de cada indivíduo.

Neste sentido, hoje admito não só a salvação dos reencarnacionistas como também penso que eles estão debaixo da cobertura da graça de Deus. Nem mesmo aqueles que seguem a corrente científica da conscienciologia fundada pelo médico Waldo Vieira e que negam a religião, baseando-se em estudos sobre o parapsiquismo e aplicando às suas pesquisas aquilo que chamam de "princípio da descrença".

Admitindo como mera hipótese a reencarnação, apenas para fins de raciocínio e reflexões, pergunto se, neste caso, uma Inteligência Superior não estaria por trás de todo o sistema existencial crido pelos espíritas e outras inúmeras tradições religiosas do planeta?

Pois, se as pessoas normalmente nascem, crescem, reproduzem, envelhecem, morrem e depois retornariam renascendo em outro corpo, quem estaria regendo todo este ciclo acima da vontade pessoal de cada um?

Como conceber a existência de um sistema que seria anterior ao homem sem admitir a existência de Deus?

Outrossim, por mais que muitos tentem negar, eu vejo a operação da graça dentro da visão reencarnacionista e que jamais seria anulada pelo carma. Porque mesmo que a consciência desencarnada precise retornar à Terra para poder evoluir, tentar reparar o mal que fez ao outro na vida passada ou então simplesmente compreender mais um pouco sobre si mesma, estaria a graça ausente?

E aí, se pensarmos bem, Deus, na visão de muitos espíritas, torna-se até mais gracioso do que nas palavras arrogantes de certos pastores evangélicos que tentam fazer do Evangelho uma coação baseando-se em partes da Bíblia para que seus ouvintes "aceitem Jesus":

"Céu ou inferno? Onde você vai querer passar o resto da eternidade?"

Todavia, tenho uma questão que vai contra o que a maioria dos evangélicos fala e também em relação ao que vários espíritas dizem de outra maneira. Entre estes, há quem afirme ser a Terra um lugar de sofrimentos, pelo que nós estaríamos aqui porque precisaríamos sofrer o carma de vidas passadas. E, por sua vez, tem predominado no meio evangélico a noção de que o mundo em breve vai acabar e só nos restaria esperar por uma nova Terra. Só que eu sou radicalmente contra estes pensamentos, pois são concepções que não buscam considerar o lado bom da vida aqui no presente e projetam a felicidade humana para um momento futuro.

É nessas horas que o Evangelho do Reino de Deus cai como uma luva para as nossas necessidades verdadeiras afim de convocar a humanidade inteira para que transforme a triste realidade na qual ela se encontra hoje. O Evangelho que considera a graça nos seus múltiplos aspectos busca é dialogar com cada religião e cultura diferente afim de instigar uma transformação social unida à espiritualidade, confirmando aquela frase da criação que, com frequência, é repetida no capítulo 1 de Gênesis:

"Deus viu que isso era bom".

Para abraçar o Evangelho do Reino não é preciso tornar-se cristão e nem aceitar um conjunto de crenças religiosas [a isso Karl Rahner chamava de "cristãos anônimos"]. Até a Bíblia torna-se dispensável por mais que ela contenha valiosíssimos ensinamentos. Porque basta que o homem compreenda a importância de contribuir para a transformação do planeta e encontre dentro de si mesmo a paz, sabendo que é amado por Deus incondicionalmente, sem precisar dar nada em troca. Nem mesmo a sua fé Nele.

Concluindo, se existe reencarnação ou não, trata-se de um mistério que pouco deve nos importar. Por alguma razão maior a fisicalidade oculta do homem, os caminhos pelos quais percorre a alma - ainda que alguns tenham suas experiências subjetivas do mundo espiritual por meio de fenômenos paranormais -  ainda tem muito mistério. Porém creio que basta a revelação da instrução divina para que a ponhamos em prática e assim estejamos bem aqui, sendo que é nesta vida que precisaremos tomar atitudes aprendendo a ser felizes em harmonia com o bem estar do próximo.

Que a graça de Deus seja com todos!


Autor: Rodrigo P. A. da Luz
Fonte: doutorrodrigoluz.blogspot.com


Observações: Como lido acima, o texto não é meu, mas entendo que a Graça de Deus se manifesta de forma abundante na hipótese do reencarnacionismo, contrariando a visão ortodoxa das Escrituras. Afinal, uma nova oportunidade para reparar, aprender e crescer no caminho de volta para a Casa do Pai será sempre um presente, uma graça de um Deus infinitamente bondoso.